Werewolf Morfeu

Werewolf Description

Morfeu era um ferreiro solitário na vila esquecida de Darvenn. Sua forja, construída com pedra negra e coberta por heras secas, ficava nos limites da floresta que o povo chamava de “Silêncio dos Deuses”. Não era um homem de muitas palavras, mas suas lâminas falavam por ele — afiadas, belas, quase vivas. Diziam que quem empunhava uma arma forjada por Morfeu jamais voltava a ser o mesmo. Ele sabia disso, porque também não era mais o mesmo desde o incêndio que levara seu pai anos atrás. Desde então, vivera entre brasa e solidão.

Certa noite, durante um eclipse lunar, um estranho encapuzado apareceu em sua forja. Não disse seu nome, apenas retirou do manto uma espada antiga, partida ao meio, feita de um metal escuro que pulsava. Pediu que Morfeu a reconstruísse e foi embora. Assim que o ferreiro tocou o aço, algo nele tremeu. Visões invadiram sua mente: luas rubras, árvores retorcidas, olhos de fera brilhando na escuridão. O metal parecia murmurar. E ele entendeu que aquele trabalho não era apenas uma encomenda — era um chamado.

Naquela mesma noite, guiado por um impulso que não compreendia, Morfeu adentrou a floresta. O vento soprava nomes antigos. E então, das sombras, surgiu a criatura — uma besta coberta de pelos, com garras de ossos e dentes de lua. Ele lutou com o que tinha: fogo, martelo, coragem. Mas foi mordido. Sobreviveu, mas mudou. O lobo havia entrado nele.

Nos dias seguintes, Morfeu tentou resistir à maldição. Trancou-se, sangrou, gritou. Mas na primeira lua cheia, a besta rompeu as amarras e correu livre. Quando voltou a si, estava nu, coberto de sangue de animais, e a forja estava em ruínas. Havia perdido o controle. Havia se tornado um perigo. E com isso veio a decisão de partir.

Seguiu rumo ao norte, cruzando montanhas e vales envenenados pelo tempo, até encontrar as ruínas de um templo antigo, onde foi recebido por Asterion — um velho lobisomem de olhos claros, tão sereno quanto uma noite prestes a explodir. Asterion explicou que Morfeu fazia parte de uma linhagem antiga, descendente direta de Fenros, o Primeiro Lupino. O metal que tocara despertara não apenas sua maldição, mas seu destino. Disse também que havia um equilíbrio possível, mas exigia dor, enfrentamento e escolha.

Morfeu então treinou. Aprendeu a ouvir os ventos, a dominar o instinto, a fundir a mente do homem com o corpo do lobo. Viajou, encontrou outros amaldiçoados, guiou-os, lutou contra caçadores cegos pelo ódio, enfrentou inquisidores que usavam a luz como arma para espalhar escuridão. Mas seu maior inimigo foi sempre ele mesmo — a fera dentro de si que sussurrava promessas de poder, destruição e liberdade sem freios.

O tempo passou, e Morfeu se tornou mais do que um monstro, mais do que um ferreiro. Tornou-se um símbolo. Um lamento que andava sob a lua, protegendo os rejeitados, combatendo a corrupção e forjando não mais armas, mas destinos. A espada que reconstruíra no início — agora completa — não era para outros. Era para si. Um lembrete de que mesmo fragmentado, mesmo amaldiçoado, ainda podia escolher quem queria ser.

Hoje, nas vilas onde o medo anda de mãos dadas com a noite, conta-se que Morfeu vaga pelas florestas, de olhos brilhantes e passos firmes. Alguns o temem. Outros rezam por sua presença. Mas todos sabem que ele existe. Um lobo feito de aço e fogo, guiado por dor e propósito, que caminha não para fugir da fera — mas para ensiná-la a não devorar o homem.

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